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Bonecas Abayomi, cultura e religiosidade afro-brasileira

 

A palavra Abayomi, Abay, encontro; Omi, precioso, de origem Iorubá (uma das maiores etnias do continente africano, cuja população habita parte da Nigéria, Benin, Togo e Costa do Marfim) carrega consigo o peso de uma história de força, resistência e identidade coletiva. A bordo dos navios negreiros durante viagens entre a África e o Brasil, homens, mulheres e crianças eram arrastadas de suas origens, costumes e tradições para serem exploradas/escravizadas em solo brasileiro e outros países dos continentes americano e europeu. Ao longo da viagem passavam pelas mais terríveis formas de violência, desde fome até a morte. As bonecas surgem nesse contexto de sofrimento, solidão e força de mulheres/mães que em um ato de desespero tentavam de alguma forma acalentar seus filhos. O encontro precioso entre mães e filhos deu forma à tradição das bonecas abayomi, que carregam consigo afeto, sentimento, solidariedade, esperança e resistência das mulheres negras e de seus povos de origem. Usando apenas nós ou tranças, as mulheres rasgavam suas próprias vestimentas, para criar as bonecas e divertirem de alguma maneira suas crianças.

 

As bonecas abayomi não possuem demarcação de rosto, o que nos leva a percebê-las como pertencentes de um mesmo grupo/etnia apesar de toda a diversidade cultural existente entre os povos africanos. O sentimento da construção de uma identidade coletividade, e o reconhecimento de diversas etnias transbordam pelos nós e retalhos de tecido que se unem e criam um símbolo de empoderamento e de importância histórica e social da cultura africana, assim como constituem um amuleto de proteção para quem portá-las. Esse “saber-fazer” transcende o processo de criação lúdica, pois carrega sentidos e significados que perpassam aspectos da tradição, memória e processos de resistência presentes na construção da identidade e cultura de origem africana e afro-brasileira.

 

O projeto possui como perspectiva desenvolver nos indivíduos o processo que envolve os modos de “saber-fazer” por meio da criação e aproximação com as inúmeras formas de resistência presentes na cultura africana e afro-brasileira.

 

A Oficina de Bonecas Abayomi, cultura e religiosidade afro-brasileira foi realizada no dia 18 de abril e consistiu na primeira atividade extensionista do GEFRE -  Grupo de Estudos e Pesquisas em Festas e Religiosidades em 2018. A ideia surgiu o ano passado, quando a Profa. Edianne Nobre tomou conhecimento do trabalho da historiadora Ânella Fyama na URCA, despertando o interesse em sociabilizar para os alunos da UPE Petrolina um tema com uma representatividade significativa no âmbito acadêmico e na sociedade em geral: a cultura afro-brasileira, com ênfase nas religiosidades e questões de gênero. A atividade dialogou com o Teatro de Caixa (com tema também relacionado à história da cultura afro-brasileira) apresentado no turno da noite para alunos das disciplinas de História da África, História e Patrimônio Cultural e História da Religiões. O reconhecimento, a valorização e a difusão da informação por meio da oficina e do teatro de caixa é também uma ação de salvaguarda do patrimônio cultural africano e afro-brasileiro, uma vez que possibilita à sociedade conhecer outras histórias, outros lugares, outros modos de saber e fazer, tão importantes e singulares na construção das nossas identidades.

 

Participaram da oficina 29 alunos.

 

 Metodologia:

 

A oficina aconteceu em dois momentos: a) contextualização histórica dos modos de saber-fazer as bonecas Aboyomi no Brasil e suas diversas apropriações; b) passo a passo da técnica para feitura da boneca (tipos de tecido, como amarrar as pontas, como confeccionar as roupas). Ao término da atividade cada aluno ficou com a sua boneca. Carga horária total: 4 horas/aula.

 

 Resultados alcançados:

 

  • Articulação com o ensino de graduação:

A oficina constituiu um espaço oportuno para estabelecer conexões com o debate que vem sendo desenvolvido nas aulas de Antropologia, História da África, História e Patrimônio Cultural, História das Religiões, assim como nos encontros sistemáticos do Grupo de Estudo e Pesquisa em Festas e Religiosidades - GEFRE.

Uma oportunidade de interiorizar o debate e a formação de uma consciência crítica, transformadora, que traga para o centro das atenções a pluralidade de assuntos que norteiam o tema da cultura afro-brasileira, em especial, as religiões e religiosidades, assim como possibilitou momentos de intercâmbios entre a UPE e à sociedade de forma mais ampla.

 

  • Articulação com a pesquisa e pós-graduação:

 A oficina possui articulação com o projeto de pesquisa em desenvolvimento: e constitui um espaço de socialização e reflexão dos indícios que encontramos/produzimos no decorrer das pesquisas, articulado com o Grupo de Estudos e Pesquisa em Festas e Religiosidades - GEFRE. Os alunos em geral, independente de participar ou não do grupo, contribuem na medida em que compartilham experiências e produzem novos saberes. Essas articulações são avaliadas de forma positiva na medida em que ampliam a rede de interlocutores, legitima e dar visibilidade ao nosso objeto de pesquisa.

 

  • Articulação com a sociedade:

 O projeto se destaca por discutir temas ligados à religião e cultura de matriz africana no Brasil, promovendo interdisciplinaridade com outras disciplinas, como: Artes Visuais, Filosofia, Sociologia e Antropologia. É interessante ainda por estabelecer o sentimento de pertencimento e coletividade entre os participantes através do compartilhamento dos materiais, bem como da articulação entre as pessoas que desenvolvem maior facilidade e os que encontram pequenos obstáculos durante o processo de produção da boneca abayomi, ou seja, despertar a vontade de ensinar e aprender com os demais participantes.

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